domingo, 8 de janeiro de 2012

O Livro


Capítulo I 

- Duas Faces!
- Isso mesmo, está resolvido este será o nome do meu livro,
disse Augusto para seu amigo Rodolfo. 
Antes de comentar Rodolfo pensou por um instante, bom acho melhor não dizer nada, mas mudou logo de idéia e comentou,
- para nome de livro é um título bem manjado você não acha?
- como assim manjado? Você não gostou?  
Antes de receber a resposta Augusto complementa,
- é que você não entende, na verdade não sabe como foi minha vida até aqui.
- Tá bom então me fale um pouco sobre o seu livro, o que pretende passar para seus leitores?
Perguntou Rodolfo, curioso.

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Conto
                                                                     Ébrio
             Minha vida foi sempre muito conturbada, aos 13 anos comecei a ter interesse por bebidas alcólicas, não sabia ao certo porque, mas hoje tenho certeza que por muitos anos da minha vida fui uma pessoa fraca, insegura e infeliz.
  Filho do meio de uma família de três irmãos, meus pais trabalhavam muito e não tinham muito tempo para os filhos, não comemoravam as datas importantes, achavam que a vida era pautada pelo trabalho e pela honestidade, aliás por muitos anos esses foram para mim o conceito de educação mais forte que pais podem dar para filhos:  ser trabalhador e honesto. Tudo na vida se resumia a essas duas virtudes. Portanto se eu fosse um jovem trabalhador e se não passasse a perna em ninguém tudo seria mais fácil, seria um grande homem. Imaginava um mundo onde todos me admirariam, me bajulariam, e estariam sempre comigo.

Uma convicção de vida, sabia que podia tudo desde que fosse honesto e trabalhador.
Passei a trabalhar, e gastar todo meu dinheiro nos bares com muitos amigos, pelas quais não trabalhavam e não tinham dinheiro, então sempre me procuravam para sair na noite.
Durante uma festa na rua do morro próximo a minha casa, onde conhecia apenas meu primo Antenor, alguns rapazes e meninas, uma delas era uma vizinha da minha avó, eu nem a conhecia direito, sabia quem ela era mais nunca tinha trocado uma palavra com aquela garota, bonitinha, uma beleza comum. Não sei o que aconteceu exatamente, mas me lembro que estava em frente a geladeira baixa em uma cozinha verde e com pouca iluminação, na minha mão esquerda tinha uma garrafa de martini bianco, e em poucos segundos inclinei a cabeça toda para trás e coloquei o gargalo da garrafa na boca, comecei a chacoalhar a garrafa, para que o líquido doce com gosto de vômito no final, descesse pela minha garganta, me lembro que depois de algum tempo a garrafa antes cheia e pesada estava vazia e virada ao meu lado, no piso de chão batido com vermelhão daquela mesma cozinha sombria.
Acordei na cama de um primo só de cueca e com a cabeça estourando de dor,
- O que houve?
Resmunguei meio entorpecido. Meu primo Antenor que estava em pé encostado no caixonete, olhou para mim e disse:
- cara todo mundo viu seu pinto, você tomou banho na frente de pelo menos vinte pessoas. Sem som, imagem e cor é claro, te jogaram com roupa e tudo em baixo do chuveiro, logo tiraram suas roupas e te deram essa cueca, se não fosse euzinho aqui que te trouxe para casa, estaria até agora lá no morro.
Naquela altura minha cabeça doia dentro da consciência, angústia na alma, sabe como?
- E a Valdenise? Perguntou meu primo.
- Quem é Valdenise? Do que você está falando? Questionei.
- Não me diga que não conhece a Valdenise? Se não a conhece por que ficou dizendo para ela que a amava incessantemente? Perguntou Antenor agora com um sorriso irônico estendido de orelha a orelha.
Senti ali meu rosto queimar de vergonha, minha pele estava com placas vermelhas no queixo e no pescoço.
Cheguei em casa e minha mãe parecia já saber de tudo, fui até a sala e vi meu pai de cabeça baixa e com as duas mãos sobre ela, parecia estar chorando, levantou a cabeça e com um semblante de desilusão, ficou em silêncio, afinal eu era apenas um menino. Aquela, sem dúvida, foi a primeira de muitas decepções que meu velho teve comigo.

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