segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

O pequeno senhor azul do parque


Conto:

O pequeno senhor azul do parque.

        A próxima volta é a última, 10.000 metros aproximados e sinto que posso correr pelo menos mais uns 5 km, minhas pernas estão fortes o batimento cardíaco em ordem, aquela sensação de dever cumprido após quase duas semanas sem a minha tradicional corrida no parque, o prazer da corrida desperta mais uma vez a sensação de que não existem problemas que não possamos resolver.

Quase nove horas da noite, começo a me sentir emocionado, isso geralmente acontece quando a satisfação do final de um treino ou corrida, associado a um dia ou semana estressante ocorre, a minha frente vejo o pequeno canteiro com mudas adolescentes de árvores uma ao lado da outra, outras paralelas a essas simetricamente alinhadas, acompanho-as a medida que meus passos largos e altos ultrapassam o canteiro, de repente quando desponto na curva viro para frente, então vejo
uma pequena figura, em milésimo de segundos antes de tirar meus olhos do canteiro, talvez nas últimas medidas do globo ocular, aquela bem no canto da vista, não sei, se vi ou se imaginei, mas fico com uma nítida impressão de ter visto um pequeno senhor com um roupão azul, estranho, não posso garantir mais seu tamanho era ainda menor que um nanico, a cabeça junto ao corpo com poucos cabelos porém brancos como neve, no meio do roupão na altura do seu rasteiro peito uma espécie de símbolo, ou talvez um medalhão. É claro que retorno a atenção ao canteiro novamente, mesmo ainda em velocidade de corrida, tento obter um melhor ângulo para verificar aquela estranha figura, mas claro não estava lá.

A mente que vê e que não tem certeza nos primeiros segundos sente confusão e busca sensatez, aquela visão não poderia ser nada coerente com a realidade, neste caso meu cérebro ofusca a fim de corrigir o pequeno pane, e volta imediatamente minha atenção a pista de corrida do parque, pois faltam menos de 1 km para terminar o treino da noite.

No vestiário o pequeno senhor azul do parque retoma meus pensamentos, enquanto tomo mais um costumeiro energético pós corrida, imagino qual o sentido de uma ilusão de ótica? A definição de ilusão de ótica de acordo com a enciclopédia livre Wikipédia é que seriam as ilusões que enganam o sistema visual humano fazendo-nos ver qualquer coisa que não está presente ou fazendo-nos vê-la de uma forma errônea, algumas são de caráter fisiológico, outras de caráter cognitivo. Ainda segundo a Wikipédia as ilusões de ótica podem surgirem naturalmente ou serem criadas por astúcias visuais específicas que demonstram certas hipóteses sobre o funcionamento do sistema visual humano.
Neste caso, não há dúvidas, para meu bem estar mental e fisiológico foi um ilusão de ótica a figura épica e afável que vi.

Ao caminhar lentamente em direção a saída do parque, cansado e contente por mais um treino de sexta-feira, percebo que estou passando em frente ao canteiro onde tive a tal ilusão de ótica. Não contive meus instintos curiosos, parei em frente as pequenas árvores do canteiro, e lá exatamente entre duas dessas pequenas árvores, lá onde vi o pequeno senhor azul do parque, forço minhas vistas e confesso que até pedi a Deus que me desse um aviso ou uma dica de que realmente aquela imagem esteve ali. Por 30 ou 40 segundos observo aquele pedacinho do parque, nada. Então começo a observar tudo ao redor daquele canteiro, a pista de corrida as grades que isolam um campo de futebol americano, a parede de uma pequena mas alta guarita, que a 4 metros do canteiro continha uma porta alta e um pé direito altíssimo, engraçado, percebo pela primeira vez que esse casebre tinha umas figuras coloridas de grafite, cores verde, branco e azul. Na parede perpendicular a porta vejo uma estranha figura grafitada com uma cabeça grande, cabelos brancos, enrolados e curtos, olhos arregalados, um sorriso maroto mas benévolo, não tinha pescoço, e seu corpo troncudinho vestido em uma túnica azul com um símbolo pelo menos para mim, não identificado bem no peito, a túnica ia até o chão e os pés cobertos pelo roupão azul. Neste instante os pelos dos meus braços e nuca se levantaram e com uma brisa soprando-os de forma uniforme tiritando meu corpo por inteiro.


                                       Popi.
24-12-2012.