segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Conto: O Taxista Furioso



O Taxista Furioso.

     - Senhor, por favor, disse o taxista.
Um senhor baixo e forte, pelo tom de voz um homem viril e de ar confiante e firme.

     - Obrigado, respondi.

    A caminho do aeroporto de Cumbica o motorista fazia comentários sobre os trânsito pesado de São Paulo, que todos esses carros foram patrocinados pelo governo porque sempre que a indústria automobilística entra em crise o governo injeta dinheiro, libera impostos que incentivam a compra de mais automóveis. Claro que concordei porque sem dúvida nenhuma, o carro é um dos produtos que mais arrecada impostos para o governo, que por sua vez não tem a menor preocupação com o eminente colapso no transporte brasileiro que está prestes a ocorrer.

     - Não consigo entender porque nosso povo não reage a tanta podridão por parte dos políticos, disse o taxista.
     - Quando vejo esses * black bloc depredando o patrimônio público fico muito furioso, a vontade que tenho é de pegar esses caras e estraçalhar, dá mesmo tanto na cara deles, esbravejou o homem.
   
     - Sabe seu Carlos, antes de ser taxista eu era policial, e sei como funciona isso, por isso fico muito revoltado com atitudes desses idiotas, que na verdade se parar para perguntar muitos deles não sabem nem porque estão cometendo esses atos de vandalismo. São jovens que não sabem nem o que querem da vida, estão se aproveitando das manifestações para causar destruição.

Analisei as palavras do motorista, e emiti um pouco da minha visão sobre as manifestações que estão ocorrendo.
     - Estou um pouco cético sobre as manifestações, no início achei que estava muito bem orquestrada pelo grupo Movimento Passe Livre (MPL), que o povo realmente estava disposto a conseguir a redução das tarifas de transporte público, o famoso "20 centavos". Apesar de perceber que outras reivindicações estavam sendo ditas como palavras de ordem, por exemplo abaixo a PEC 37, tornar a corrupção como crime hediondo, e outras coisitas mas. Mas logo que as tarifas nas grandes metrópoles foram reduzidas, as manifestações legítimas perderam força com a recuada da MPL, que inteligentemente tirou o pé do acelerador quando viu que corria risco de ser usado por reacionários e conservadores. De lá para cá as manifestações são atos não soberanos e de anti democracia, onde vândalos destroem agências de banco e prédios do governo com a cabeça coberta e sem causa definida.

A essa altura o taxista se encontrava pensativo e disposto a dialogar mais a fundo, senti que o homem se encontrava em estado alterado, e não me senti bem, foi nesse momento que ele começou com umas palavras bastante agressivas, com palavrões e com expressões como:

     - " fico até arrepiado só de pensar" --.

     - Hoje tenho 52 anos, sou pai, sou avô, mas vou te falar um coisa, como essa luz que brilha aí fora,
se referiu o senhor motorista ao lindo dia que fazia no início da tarde de domingo.

     - se eu tivesse 22 anos e com a cabeça que tenho hoje, eu iria ser caçador de políticos, sairia na espreita de políticos como Lula, José Dirceu e Dilma, sentaria o dedo, e esquartejaria esses filhos da #*#¨ e colocaria seus pedaços em praça pública.

Aquelas palavras me surtiram um efeito tão negativo, mas tão negativo, que senti um mau estar enorme. Não fiz comentário, mas percebendo que o homem me olhava pelo espelho retrovisor, eu acenava com a cabeça de forma positiva. Sei que não concordava com suas palavras, mas achei que seria melhor não contra-pôr o que estava sendo dito, não pensei nisso no momento, mas qual seria a reação desse senhor se eu manifestasse alguma reação de descontentamento ou até mesmo algumas palavras de repúdio a tamanha violência? Não sei o que aconteceria, mas o simples fato de não ter contestado o discurso violento e retrogrado do taxista  me deixou incomodado e até mesmo triste.

Ainda no táxi mas já nos arredores do aeroporto, pensei que aquela conversa não me fizera bem, mas não dei muita importância a esse pensamento.
Saí do táxi me despedi do homem, que me informou seu nome: Mauro.

Depois de ter despachado minhas malas e trocado moeda em uma casa de câmbio, fui até a esteira e passei minha bagagem de mão no scanner  a moça que verificava no monitor o que estava na minha bagagem disse,
   
     - Este frasco que está na sua mochila tem mais de 100 ml?
     - Não tenho certeza mais acho que não, respondi.
     - Senhor vamos precisar que você despache o frasco, não poderá embarcar com ele, informa a     moça de forma profissional.

Foi quando respondi imprudentemente,
     - Não vou despachar nada, vou embarcar com esse perfume, pois comprei aqui no Duty Free semana passada. Comprei aqui, embarquei para o Chile e voltei para São Paulo, e ninguém me abordou, então senhorita, não vou me desfazer do perfume. O que irá acontecer agora?
Perguntei indignado.

A moça me olhou com um ar de surpresa e disse que eu teria de falar com a policia federal.

     - Então pode chamar a polícia federal, porque sem o perfume eu não fico, respondi.

A essa altura me encontrava extremamente nervoso e com a respiração ofegante, aquele momento era atípico, meu temperamento estava a flor da pele, então lembrei do taxista e suas palavras grosseiras.
Procurei me estabilizar e me tranquilizar com pensamentos amenos e conversando comigo mesmo:
     - Fique calmo, não precisa se alterar, procure outras alternativas, deve haver alguma onde não seja necessário desfazer do perfume.

Mas sem menos esperar apareceram dois homens de alta estatura, um magro com uniforme e outro gordo com roupa normal, o maior e mais gordo se aproximou de mim, cruzou o braço e com um tom alto e arrogante disse,
     - O que está ocorrendo aqui?

Respondi o mesmo que havia dito para a moça da esteira, e ele disse que eu teria de despejar o frasco no recipiente grande e que não haveria devolução, caso contrário eu não embarcaria.
Nesse momento senti um fúria grande, tão grande e estúpida quanto aquela que o taxista expeliu mais cedo, e então afirmei,

    - Se não posso ficar com o frasco vou jogá-lo no chão assim ninguém ficará com o perfume.

O homem se aproximou, estufou o peito e disse,

     - sim claro, faça isso e sofrerá as consequências. Você vira para um policial federal no meu território e diz que irá quebrar um frasco no meu lobby, faça isso e arque com as consequências.

Neste momento percebi a idiotice, virei para a moça novamente e perguntei,
     - existe alguma outra alternativa?
     - sim senhor, vá até ao balcão de despacho de malas e despache o seu perfume. Disse a moça.

Peguei minha mochila e fui até os Correios e enviei o perfume de volta para o endereço de minha casa.

     A reflexão que faço sobre todo o episódio, é que de alguma forma um lado agressivo meu foi despertado pelas palavras violentas do taxista, e que preciso praticar a força do pensamento, para que não seja influenciado por energias negativas vindas de situações externas.

Sem dúvida faltou praticar um dos grandes ensinamentos do Senhor Jesus Cristo:

 " Orai e Vigiai" .

* black blocs -  é o nome dado a uma estratégia de manifestação e protesto anarquista, na qual grupos de afinidade mascarados e vestidos de negro se reúnem com objetivo de protestar em manifestações anti-globalização e/ou anti-capitalistas, conferências de representacionistas entre outras ocasiões, utilizando a propaganda pela ação para questionar o sistema vigente.


                                                                                      Por Popi.


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