sábado, 9 de março de 2013

Conto - Último Capítulo



Último Capítulo

O som do programa jornalístico na TV ao longe não incomodava Ravel que escrevia um texto, mais um dos vários textos incompletos que faziam parte do seu dia a dia.  O som da porta do quarto a frente abrindo o despertou, em forma de susto, sentiu seu corpo saltar em batidas aceleradas dentro do peito.

- Ravel? – Perguntou Nora com um sussurro embargado e com a garganta arranhada por um leve resfriado
- Estou indo Nora. - Ele resmungou agora irritado.
- O que está havendo Ravel? - Disse Nora com expressão suplicativa, mas em baixo tom. Nora continua, - Não vou aturar mais essa sua indiferença, vou voltar para o Rio de Janeiro se você voltar a beber durante a noite.
- Nora, sem essa, não começa. - Replicou Ravel.

A porta voltou a fechar atrás de Nora.
***

Entre uma esquina e outra, Ravel conseguia suportar a fadiga em suas pernas e as batidas no peito, enquanto corria. Lêu na revista Running que os pulmões devem ser exigidos a trabalhar fortemente com profundas inalações para que os pulmões se expandam ao máximo, de modo que o peito cheio de oxigênio dilatasse e armazenasse mais ar, aumentando a resistência do corredor. Embora essa técnica não adiantesse naquela noite, afinal Ravel reduziu seus treinos a uma vez por semana, a poucas semanas os mesmos pulmões corriam dia sim dia não.
Por nenhum motivo aparente Ravel gostava de correr por 9 km, nem 5 nem 10, tinha de ser 9 km. Contudo esta noite Ravel pretendia correr apenas 6 km, caso contrário seu plano seria prejudicado. A cada sopro exalado Ravel sentia seu peito bater mais forte, também por emoção, pois ali morava um coração apaixonado e ansioso pela surpresa que estava preparando para Nora.

Nora estava no Rio em uma viagem de negócios, tinha acordado tão cedo para pegar o primeiro Ocean Air vôo do dia, Ravel nem tomou conhecimento, também pudera foi para cama quase as quatro da matina.
Combinaram que assim que o vôo para São Paulo pousasse em Congônhas Nora ligaria para Ravel buscá-la no aeroporto.

Durante o horário do almoço Ravel fora ao shopping comprar o presente de Nora; um livro que Nora havia folheado dias atrás no mesmo shopping, com muito entusiasmo Nora contou parte do texto que lera na orelha do livro.
Já retornando de seu treino Ravel olhou para o seu relógio Polar e percebeu que teria aproximadamente uma hora para terminar seu treino e terminar toda surpresa para Nora. Pensando em comprar mais flores para colorir ainda mais o grande momento, ficava imaginando todos os detalhes, planejava tanto que por algumas vezes pensou em voz alta cada etapa da surpresa.

Ao atravessar uma deserta rua ouviu por detrás de seu ouvido esquerdo aproximação de uma moto, com um ronco tosco e úmido de óleo velho, um forte calafrio subiu sua nuca, um vento frio e suave levantou sua camiseta, como consequência do deslocamento de algo motorizado, que em instante estava ao lado de Ravel. Dois homens ainda em cima da motocicleta, usando capacetes de cor preta e rosa emparelhara com Ravel, que assustado trotava em rítimo lento.

- Peraí mano, para aí mesmo, não tem para onde – disse o homem da garupa.
Ravel encostou rapidamente na grade de uma loja de móveis de vime, a avenida estava repleta de carros em alta velocidade, mas o local era favorável aos assaltantes, pois a calçada era larga e a moto estava entre uma pequena árvore e Ravel, que rapidamente percebeu um feixo de luz refletindo, entre a barriga de um dos homens e as costas do assaltante condutor, tratáva-se de um comprido cano do revólver.

- Meu, passa o relógio e o mp4, rápido! _ Gritou o assaltante,

         - Não tenho MP4 nem... Ravel iniciou a resposta e foi interrompido por um estalido e seco disparo, que atingiu o tronco de Ravel rompendo a carne um pouco abaixo de seu mamilo esquerdo.

- Pôrra meu... putz... o que você fez?  - Gritou o figura que estava no comando da moto.
– Êta porra! Essa merda disparou sozinha, - Trêmulo o homem de capacete rosa berrou. 

Em uma forte arrancada a moto derrapou sobre a estrada e disparou em alta velocidade pela avenida.

Em um pensamento rápido, Ravel levantou-se e olhou para os carros que passavam na Avenida, sentiu vergonha por ter estado no chão,
então seu pai lhe perguntou se estava bem, Ravel sorriu para seu pai e disse,

         - Claro que estou bem e você, como está Pai? – Respondeu Ravel.
- Estou bem meu filho, venha vamos sair daqui, informou o Pai de Ravel olhando ao seu redor como se estivesse atento à algum risco.

Ravel chegou em casa e foi correndo para o quarto, para verificar por mais uma vez se a as pétalas espalhadas pela cama seriam suficientes para agradar Nora.

Surpreendeu-se com a presença de Nora, ela já estava sentada na cama abraçada com o livro A Casa de Vidro. Nora movimentou lentamente a cabeça em direção a Ravel e ainda com os olhos cheios de lágrimas disse:

- Por que Ravel? Por que?

Ravel sorriu e antes que pudesse dizer o quanto a amava e se aproximar, Nora tomou a frente em direção a porta da entrada, porque a campainha acabara de tocar, Ravel sentou na cama e ainda sorrindo ergueu o braço e pegou o livro.

Nora recebeu uma amiga do trabalho e disse,
- Eu não acredito que isso está acontecendo comigo Tatiana.
Em silêncio Tatiana a abraçou apertado.

Ravel levantou em direção a sala, porém antes mesmo de sair do quarto seu pai entrou de repente na sua frente.

         - Oi pai você por aqui de novo? O senhor está ótimo.

O pai de Ravel estava vestindo um pulôver branco e uma calça creme com pequenas listras horizontais e verticais de cor azul.

         - Você viu o presente que eu comprei para a Nora, ela ficou até emocionada com a surpresa. Espera um momento. Indagou surpreso Ravel. Onde estão as pétalas de rosa vermelha que espalhei pela cama e pelo apartamento?

Continuou em silêncio o pai de Ravel.

Nora já não se continha mais, agora sentada no sofá de couro estava em prantos nos braços da amiga.

Ravel olhou para seu pai logo que viu Nora em prantos, olhou para a porta de vidro que separava a sala e a sacada do apartamento, e percebeu uma pequena luz azul, mas muito firme que girava em torno de seu próprio eixo.

Sem dizer nada Ravel sentiu seu peito molhado e percebeu que sangrava bem sobre o coração.

Nesse instante Nora disse,
         - Eu queria muito falar com ele aquele dia, pressenti que algo ruim estava para acontecer.
                                                                                                                           
                                                   São Paulo, 19:53 do dia 14 de outubro de 2012.
                                                                                                                         Por Popi.

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