Último Capítulo
O som do programa
jornalístico na TV ao longe não incomodava Ravel que escrevia um texto, mais um
dos vários textos incompletos que faziam parte do seu dia a dia. O som da porta do quarto a frente abrindo o despertou,
em forma de susto, sentiu seu corpo saltar em batidas aceleradas dentro do
peito.
- Ravel? –
Perguntou Nora com um sussurro embargado e com a garganta arranhada por um leve
resfriado
- Estou indo Nora.
- Ele resmungou agora irritado.
- O que está
havendo Ravel? - Disse Nora com expressão suplicativa, mas em baixo tom. Nora
continua, - Não vou aturar mais essa sua indiferença, vou voltar para o Rio de
Janeiro se você voltar a beber durante a noite.
- Nora, sem essa,
não começa. - Replicou Ravel.
A porta voltou a fechar atrás de Nora.
***
Entre uma esquina e
outra, Ravel conseguia suportar a fadiga em suas pernas e as batidas no peito,
enquanto corria. Lêu na revista Running que os pulmões devem ser exigidos a
trabalhar fortemente com profundas inalações para que os pulmões se expandam ao
máximo, de modo que o peito cheio de oxigênio dilatasse e armazenasse mais ar, aumentando
a resistência do corredor. Embora essa técnica não adiantesse naquela noite,
afinal Ravel reduziu seus treinos a uma vez por semana, a poucas semanas os
mesmos pulmões corriam dia sim dia não.
Por nenhum motivo
aparente Ravel gostava de correr por 9 km, nem 5 nem 10, tinha de ser 9 km.
Contudo esta noite Ravel pretendia correr apenas 6 km, caso contrário seu plano
seria prejudicado. A cada sopro exalado Ravel sentia seu peito bater mais
forte, também por emoção, pois ali morava um coração apaixonado e ansioso pela
surpresa que estava preparando para Nora.
Nora estava no Rio
em uma viagem de negócios, tinha acordado tão cedo para pegar o primeiro Ocean Air
vôo do dia, Ravel nem tomou conhecimento, também pudera foi para cama quase as
quatro da matina.
Combinaram que
assim que o vôo para São Paulo pousasse em Congônhas Nora ligaria para Ravel
buscá-la no aeroporto.
Durante o horário
do almoço Ravel fora ao shopping comprar o presente de Nora; um livro que Nora
havia folheado dias atrás no mesmo shopping, com muito entusiasmo Nora contou
parte do texto que lera na orelha do livro.
Já retornando de
seu treino Ravel olhou para o seu relógio Polar e percebeu que teria aproximadamente
uma hora para terminar seu treino e terminar toda surpresa para Nora. Pensando em
comprar mais flores para colorir ainda mais o grande momento, ficava imaginando
todos os detalhes, planejava tanto que por algumas vezes pensou em voz alta
cada etapa da surpresa.
Ao atravessar uma
deserta rua ouviu por detrás de seu ouvido esquerdo aproximação de uma moto,
com um ronco tosco e úmido de óleo velho, um forte calafrio subiu sua nuca, um
vento frio e suave levantou sua camiseta, como consequência do deslocamento de
algo motorizado, que em instante estava ao lado de Ravel. Dois homens ainda em
cima da motocicleta, usando capacetes de cor preta e rosa emparelhara com
Ravel, que assustado trotava em rítimo lento.
Ravel encostou rapidamente na grade de uma loja de
móveis de vime, a avenida estava repleta de carros em alta velocidade, mas o
local era favorável aos assaltantes, pois a calçada era larga e a moto estava
entre uma pequena árvore e Ravel, que rapidamente percebeu um feixo de luz
refletindo, entre a barriga de um dos homens e as costas do assaltante condutor,
tratáva-se de um comprido cano do revólver.
- Meu, passa o
relógio e o mp4, rápido! _ Gritou o assaltante,
- Não tenho MP4 nem... Ravel iniciou a
resposta e foi interrompido por um estalido e seco disparo, que atingiu o
tronco de Ravel rompendo a carne um pouco abaixo de seu mamilo esquerdo.
- Pôrra meu...
putz... o que você fez? - Gritou o
figura que estava no comando da moto.
– Êta porra! Essa
merda disparou sozinha, - Trêmulo o homem de capacete rosa berrou.
Em uma forte arrancada a moto derrapou sobre a estrada
e disparou em alta velocidade pela avenida.
Em um pensamento rápido, Ravel levantou-se e olhou
para os carros que passavam na Avenida, sentiu vergonha por ter estado no chão,
então seu pai lhe perguntou se estava bem, Ravel
sorriu para seu pai e disse,
- Claro
que estou bem e você, como está Pai? – Respondeu Ravel.
- Estou bem meu filho,
venha vamos sair daqui, informou o Pai de Ravel olhando ao seu redor como se
estivesse atento à algum risco.
Ravel chegou em casa e foi correndo para o quarto,
para verificar por mais uma vez se a as pétalas espalhadas pela cama seriam
suficientes para agradar Nora.
Surpreendeu-se com a presença de Nora, ela já estava
sentada na cama abraçada com o livro A Casa de Vidro. Nora movimentou
lentamente a cabeça em direção a Ravel e ainda com os olhos cheios de lágrimas
disse:
- Por que Ravel? Por que?
Ravel sorriu e antes que pudesse dizer o quanto a
amava e se aproximar, Nora tomou a frente em direção a porta da entrada, porque
a campainha acabara de tocar, Ravel sentou na cama e ainda sorrindo ergueu o
braço e pegou o livro.
Nora recebeu uma amiga do trabalho e disse,
- Eu não acredito
que isso está acontecendo comigo Tatiana.
Em silêncio Tatiana a abraçou apertado.
Ravel levantou em direção a sala, porém antes mesmo de sair do
quarto seu pai entrou de repente na sua frente.
- Oi pai
você por aqui de novo? O senhor está ótimo.
O pai de Ravel estava vestindo um pulôver branco e uma calça creme com pequenas listras horizontais e verticais de cor azul.
- Você
viu o presente que eu comprei para a Nora, ela ficou até emocionada com a
surpresa. Espera um momento. Indagou surpreso Ravel. Onde estão as pétalas de rosa
vermelha que espalhei pela cama e pelo apartamento?
Continuou em silêncio o pai de Ravel.
Nora já não se continha mais, agora sentada no sofá de
couro estava em prantos nos braços da amiga.
Ravel olhou para seu pai logo que viu Nora em prantos,
olhou para a porta de vidro que separava a sala e a sacada do apartamento, e
percebeu uma pequena luz azul, mas muito firme que girava em torno de seu
próprio eixo.
Sem dizer nada Ravel sentiu seu peito molhado e
percebeu que sangrava bem sobre o coração.
Nesse instante Nora disse,
- Eu queria muito falar com ele aquele dia,
pressenti que algo ruim estava para acontecer.
São
Paulo, 19:53 do dia 14 de outubro de 2012.
Por Popi.
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